Reformar
O nome “Batistas” passou a ser usado na Inglaterra do século 17 para denominar cristãos que adotaram a prática de batizarem somente sob profissão de fé em Cristo. Estes se viam como parte do movimento protestante maior e acreditavam que praticar o credobatismo, em si, era reformar a igreja, por voltar a praticar o batismo conforme registrado na Bíblia e praticado pelos primeiros cristãos, ainda sob direção apostólica. Seguindo seus passos, nós abraçamos a missão de reformar a igreja em nossa geração, seguindo os mesmos princípios expressos nos cinco “Solas” da Reforma.
Sola Scriptura
Nossa identidade, como Batistas, está inseparavelmente ligada à crença na inspiração, inerrância e suficiência das Escrituras, motivo pelo qual temos a Bíblia como nossa única regra de fé e conduta. A declaração do apóstolo Paulo de que “toda a Escritura é inspirada por Deus” (2Tm 3:16) equivale a dizer que a Bíblia é a própria Palavra de Deus. Aquilo que está escrito nas Escrituras pode ser descrito como “o que fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta” (Mt 1:22), “a Escritura que o Espírito Santo proferiu anteriormente por boca de Davi” (At 1:16), aquilo de que “nos dá testemunho também o Espírito Santo” (Hb 10:15), etc.
Por ser a Palavra inspirada de Deus, a Bíblia é também inerrante (livre de erros de qualquer tipo) em seus manuscritos originais, visto que nada nas Escrituras surgiu do entendimento do próprio profeta, nem de iniciativa humana, pois os autores humanos foram impulsionados pelo Espírito Santo e falaram da parte de Deus (2Pe 1:20-21).
Por isso afirmarmos a veracidade das Escrituras, rejeitando a incredulidade que se manifesta em igrejas influenciadas pelo liberalismo teológico que abandonam verdades essenciais à fé cristã, como a inerrância das Escrituras, a doutrina da Trindade, o nascimento virginal de Cristo, sua ressurreição física e a sua segunda vinda literal, entre outras coisas.
Ao afirmarmos a suficiência das Escrituras, estamos meramente reconhecendo que nenhuma autoridade humana pode estar em pé de igualdade com a Palavra de Deus e, ao mesmo tempo, que a Bíblia está completa, não havendo mais profetas que falam sob inspiração divina infalível que poderiam adicionar escritos ao cânon. Quanto a isso, cremos que cessaram “aqueles antigos modos em que Deus revelava sua vontade a seu povo” (Confissão de Fé Batista de 1689).
Solus Christus
Jesus Cristo, o Salvador, é o foco central de toda a Bíblia (Jo 5:39; Lc 24:27; 1Pe 1:10–12). O lema Solus Christus expressa que somente Cristo é a base de nossa justificação diante de Deus. Somos inclinados a achar que, de alguma forma, podemos alcançar a salvação por nós mesmos, obedecendo os mandamentos de Deus e fazendo o bem. Mas a Bíblia nos assegura que não há justo, nem um sequer (Rm 3:10) e que Deus seria perfeitamente justo em nos condenar a todos.
Nossa condição é tal que somente Deus pode nos salvar. É justamente isso que Ele faz por meio de Cristo, o Verbo eterno que se fez carne e habitou entre nós (Jo 1:14). Cristo obedeceu a Lei de Deus perfeitamente e se tornou nosso substituto, morrendo em nosso lugar e tomando sobre Si a ira justa de Deus por nossos pecados (Rm 3:21–26). É por meio de Cristo e Cristo somente que obtemos perdão de nossos pecados e ganhamos justiça perfeita para que tenhamos vida eterna. Por isso, não existe salvação em nenhum outro (At 4:12) e ninguém pode ter comunhão com Deus, senão por meio de Jesus Cristo (Jo 14:6; 1Jo 2:23). Cabe, portanto, à igreja, pregar o evangelho a todas as nações e chamar todas as pessoas ao arrependimento e à fé em Cristo, pois só assim poderão receber o perdão de seus pecados e vida eterna.
Sola Fide
E de que forma o cristão recebe a salvação conquistada por Cristo? Mediante a fé somente (Rm 3:28). A justificação acontece quando uma pessoa coloca sua fé em Jesus Cristo como o seu único e suficiente Salvador. Isso significa que a salvação eterna de uma pessoa se concretiza no momento em que ela crê (Lc 19:8; 23:43), como Jesus disse: “Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em condenação, mas passou da morte para a vida” (Jo 5:24).
“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5:1) e continuamos salvos, não por conta de nossas obras, mas guardados pelo poder de Deus, mediante a fé (1Pe 1:5). Assim, nossa salvação não é baseada em justiça própria, que procede de lei, mas na justiça que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus (Fp 3:9). A fé é, portanto, o instrumento pelo qual nós recebemos, por imputação, a justiça de Cristo.
Ao mesmo tempo, a Bíblia ensina que fé autêntica é uma fé viva que produz boas obras. Ninguém é conduzido pelo Espírito Santo a crer em Cristo, sem ter uma mudança de vida, sem que passe a amar a Deus e à justiça. Aqueles que dizem que têm fé, mas não têm obras, na verdade, não possuem fé real.
Sola Gratia
A salvação, do início ao fim, é fruto da graça de Deus. “E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça” (Rm. 11:6). A Bíblia ensina que Deus “nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos” (2Tm 1:9). De fato, somos salvos porque Deus “nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado” (Ef 1:5-6). Assim, a salvação “não depende de quem quer ou de quem corre, mas de Deus usar de misericórdia” (Rm 9:16).
Nem mesmo a nossa fé pode ser classificada como uma obra que realizamos para merecer, em alguma medida, a salvação. Pelo contrário, a fé em Cristo é um dom de Deus (Ef 2:8; Fp 1:29), por meio do qual Ele nos une a Cristo. É o Espírito Santo que nos convence do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16:8). Por meio de uma operação imperceptível, Deus tira de nós o coração de pedra e põe em nós um coração de carne (Ez 36:26). Essa é uma obra monergística de regeneração. Assim, é o Senhor que abre o coração de quem aceita o evangelho (At 16:14). Essa operação graciosa pela qual Deus eficazmente chama seus eleitos para si produz arrependimento e fé na pessoa que estava antes endurecida, de modo que quem verdadeiramente se arrepende e crê em Cristo não pode atribuir sua própria conversão a si, nem reivindicar nenhum mérito por ter crido em Cristo. Essa é a razão por que a salvação provém da fé, para que seja segundo a graça (Rm 4:16).
Assim criam aqueles que nos legaram o nome Batista, os Batistas Particulares ingleses. Quando o nome “Batista” passou a ser usado pela primeira vez para denotar uma denominação cristã, ele foi aplicado a dois grupos. O movimento dos Batistas Gerais teve início na Inglaterra em meados de 1610. Foram assim chamados por serem um grupo de credobatistas que seguiam a teologia arminiana, que advoga uma expiação geral. Na década de 1630, também na Inglaterra, outro grupo teve seu começo. Seus integrantes foram chamados de “Batistas Particulares” para diferenciá-los dos Batistas Gerais e chamar atenção ao fato de defenderem a teologia reformada com sua doutrina de expiação particular.
O movimento Batista cresceu rapidamente na Inglaterra, de modo que, em 1660, haviam 131 igrejas Batistas Particulares e 115 Batistas Gerais. Mas a denominação arminiana não permaneceu na ortodoxia. Em 1697, apenas 6 de suas congregações criam na Trindade. Em pouco tempo, toda aquela denominação se tornou apóstata e, por fim, sumiu por completo, sem deixar legado para nossos dias. (Fonte: Errol Hulse, An Introduction to the Baptists, Carey Publications Ltd., 1976, páginas 25-26)
Já o movimento Batista Particular cresceu e se espalhou pelo mundo. William Carey (fundador do movimento moderno de missões), membro de uma Igreja Batista Particular na Inglaterra, levou o evangelho para a Índia. Os Batistas calvinistas cresceram extraordinariamente nos Estados Unidos da América, onde deram origem a várias associações, inclusive a Convenção Batista do Sul, a qual enviou os primeiros missionários Batistas ao Brasil. De igual modo, a maioria das igrejas Batistas no mundo hoje podem traçar sua origem diretamente ao movimento Batista calvinista inglês do século XVII. Embora várias igrejas Batistas passaram, posteriormente, a se identificar como arminianas, nós, em consonância com nossos predecessores históricos, entendemos que a salvação é somente pela graça soberana de Deus.
Soli Deo Gloria
Compreender que em nada contribuímos para nossa própria salvação, mas que ela é pela graça de Deus somente, do princípio ao fim, cultiva em nós um espírito de gratidão e humildade, pelo qual atribuímos a Deus toda a glória pela salvação. Na verdade, Deus nos salvou “para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus” (Ef 2:7), “a fim de sermos para louvor da sua glória” (Ef 1:12). Somos comparados a “carvalhos de justiça, plantados pelo Senhor para a sua glória” (Is 61:3). “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” (Rm 11:36).
Mas os cinco solas são mais que uma forma sucinta de comunicar a essência da mensagem da Reforma. Lembrar sempre essas verdades ajuda a preservar a mensagem do evangelho com clareza em nossas igrejas. Sabemos que toda igreja tende a se deformar. Por isso, somos instruídos a batalharmos, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos (Jd 1:4). Os reformadores perceberam que a igreja deve estar sempre se reformando, sempre voltando-se às Escrituras e vigiando contra qualquer desvio. Nosso objetivo é não perder isso de vista, mas sermos fieis a nosso Senhor, servindo, por meio do Espírito Santo, até aquele dia em que veremos o nosso Senhor face a face.